*Por Antônio F. Bispo
ARTIGO 1.
Sobre o rapto da essência das ovelhas.
   Eu, autodenominado escolhido do Deus altíssimo, venho, por meio deste, apropriar-me do vosso ser.
   A tua vida me pertence!
   Você a entregou-me no momento em que, levantando as tuas mãos no altar desta igreja, confessastes publicamente terdes aceitado a Jesus como salvador de tua alma, aqui, neste recinto.
   Quando assim o fizestes, foi a mim que entregastes o teu querer e tua vontade, não àquele qual imaginais ser o criador de todas as coisas.
   Saibas tu que de hoje em diante, o que você chama de Deus, seus mistérios e desígnios, será tudo aquilo que eu determinar.
   Você assim o fará!
   Como chefe desta casa e autoconsagrado pastor, bispo, apóstolo, profeta ou missionário deste ministério, declaro nas entrelinhas, que Deus é tudo aquilo que um líder religioso, teólogo ou corpo eclesiástico desenhar e a perfeita medida de tudo o que uma mente frágil ou mal instruída, em silêncio consentir.
    Assim foi. Desta forma tem sido. Assim sempre o serás. Nada mais, nada menos que isso!
    Tu estarás preso a esse estigma, e como em uma hipnose lúcida, você se sentirá mal ao interpretar a divindade por conta própria e terá pavor de exprimir suas próprias opiniões sob religião e fé, sem que antes tenha me consultado ou se instruído com os de nossa bolha.
    Você terá de vergonha de questionar, de se exprimir ou de dizer o que sente, a menos que isso de alguma forma sirva de espetáculo e atraia público pagante a esta casa.
    Como uma ovelha muda, virás sempre a este ambiente.
    Sempre que tiver dinheiro e sempre que trouxer alguém para fazer crescer o número de pessoas e as cifras em nossas contas, será sempre bem-vindo.
    Nosso amor e atenção por vós, será do tamanho dos vossos dízimos, vossas ofertas e da vossa subordinação.
    Acabando-se uma destas partes, de igual modo nosso afeto por vós será esvaído.
    Amaldiçoado serás se estando ainda em "fase de uso" abandonares esta casa!
    Abençoado sereis, se não tendo mais o que ofertar, desocupardes este recinto.
    À MEIA-NOITE ROUBAREI O TEU BOM SENSO!

ARTIGO 2.
Sobre o enfraquecimento moral do rebanho.
    Você deve a mim obediência e subserviência irrestrita. Na sua vida quem manda sou eu!
    Sorria, abaixe a cabeça ou abane o rabo toda vez que eu ou qualquer pessoa imbuída de minha autoridade, contigo falar.
    Encha-se do espírito (de paranoias e temores) para saberes como me agradar e como evitar me constranger.
    Cada fala e pergunta a mim dirigida deve ser pensada e bem articulada, de modo que pareça que sempre estou no controle de tudo.
   Haja de modo que me faça aparentar sabedoria e comunhão com os altos céus.
   Mantenha sempre o sorriso bobo no rosto, com ares de idiota ou pessoa deslumbrada, toda vez que a mim se dirigir.
   Questões mal colocadas e que me deixem embaraçado, ainda que sem intenção, serão tomadas como uma afronta direta e no momento oportuno, usarei da minha suposta autoridade pastoral para envergonhar-te diante de todos.  
    Humilhado publicamente serás, mesmo que não mereçais.
    No dia em que resolveres reassumir as rédeas de tua própria existência, eu o amaldiçoarei no meio da congregação dos tolos e tu, amedrontado, recuarás!
    Quando, em conhecimento crescerdes e perceberes que você nunca precisou de mim, antes, sim, notares que eu só existo por vossa causa, neste momento, porei todos os integrantes desta igreja contra ti, para que porventura, evadindo-se tu deste ambiente, não arraste consigo uma parte significativa dos "pagãos" deste recinto e faça diminuir meus rendimentos.
    Dinheiro para mim é tudo. Você para mim é nada!
    Detesto você, sua família e a todos os que me rodeiam com falsas bajulações.
    Gosto apenas do dinheiro e da influência, que por meio de vós, passo a ter na sociedade.
     Todo poder e autoridade que pareço ter, não vem dos céus. Vem de pessoas como tu, que de graça me destes e com esforço o mantém em minhas mãos, por achar que realmente sou um ser angelical, um sacerdote santo enviado do próprio céus.
     Mas não sou!
     Sou apenas um mero mortal como qualquer outro, mas finjo ter poderes especiais para que me temam e me sirvam como se fosse a um ser celestial.
      Meu maior feitio é transformar seres livres, pensantes e em constante evolução, em seres dominado pelo medo, acovardados por metáforas e escravos dos próprios pensamentos.
      Em casa onde só há fraqueza, até a frouxidão é sinônimo bravura.
     À MEIA NOITE ROUBAREI A TUA CORAGEM!

ARTIGO 3.
Sobre o uso da loucura, dos cargos nas igrejas e do estímulo da concorrência interna como arma de controle.
     Em uma criatura débil, confusa, dependente e descartável te farei!
     Ainda assim, terás a impressão de que és um ditoso general, comandando batalhas épicas contra forças malignas, invisíveis e hostis.
     Criarei e porei diante de ti, antagonista que só existirão em sua mente.
    Suscitarei desafetos diversos e vos darei para pelejares, para que por ventura, na ociosidade, não encontre tempo para refletir sobre quem realmente tu és.
   Te darei cargos e tarefas banais na igreja e direi que isto é um serviço de suma importância, cuja paz celestial e equilíbrio universal dependerão destas tarefas e tu, o farás de bom grado.
   Enquanto isto, estarei em Dubai, em Paris ou em Orlando, curtindo a vida com minha amante ou família, enquanto tu, oh trouxa, desperdiça seus recursos, suas horas de lazer e seus dias úteis de vida, a fim de veres crescer a minha empresa pessoal, qual chamo de igreja do Senhor.
    Darei também a vós, acumulo de funções no meu ministério, para que por meio de lutas internas, a inveja cresça entre vós mesmo e disputem a voluntariedade do servir ao invés de se esquivar dele.
    Vocês farão para mim de graça o que outras pessoas normais, nem recebendo altos valores, o fariam, de tão degradantes e inúteis que são!
    Assim, vocês se ofenderão e competirão uns contra os outros, para que, tendo neste cargo a imagem do sucesso, se tornem ainda mais servis e obedientes à minha pessoa.
    Sou, geralmente, a fonte de toda malignidade e desamor entre vós, mas faço de conta que componho a solução de todos os problemas que eu mesmo tenho criado para vos manter ocupado e ausentes de vossa própria essência.
    Quero que ouçam, acreditem e remoam sem pensar nestas frases de efeito:
- Crente sem luta, é crente sem vitória!
- Árvore que dá frutos, precisa levar pedradas!
- Crente cheio da unção, atrai para si, a ira do próprio capeta...!
   Desse modo, parte do trabalhado que seria feito “pelo diabo”, será feito por vós mesmos e eu estarei lá para vender a solução e cobrar valores e favores em cima desta intriga.
   Ahhhhh... Como gosto disso!
   Com as “vestes espirituais da bondade”, posso ser quem eu quiser, inclusive um masoquista, um doente, pervertido...
   Ainda assim, serei venerado por aqueles lobotomizados pela fé e cultura popular.
   Apesar de tudo, digo que sempre estarei lá, no púlpito, afirmando está cuidando de vós e de vossa paz.
   Quando realmente vestires o personagem que desenhei para ti e fiel fores neste insalubre papel, como ato de misericórdia, irei profetizar bênçãos sobre ti e diante da congregação direi que Deus é contigo, para que o teu ego se torne maior que sua própria vontade de acordar!
    Irei renderizar um exército de anjos para lutar ao seu redor.
   A tua vitória irei bufferizar e armazenar na nuvem, para que depois de muita peleja, humilhação e subserviência, eu possa declarar-te vitorioso.
   Sua vitória real será na glória, ondem ninguém a verá e nem terá possibilidade de comprovar se estou ou não mentindo.
    Assim como o conceito de Deus, a tua benção será aquilo que eu, esta igreja ou ministério determinar que seja, não exatamente aquilo que tu desejas ou presumes ser.
   Em um lunático e esquizofrênico te farei e com orgulho me servirás e ainda te autodenominarás ovelha do meu pasto!
   Tu pelejarás contra tudo e todos que quiseres te mostrar que você não passa de um ser abobalhado, um cativo que defende a liberdade do opressor em detrimento da tua própria.
    Você não será dono de nada, nem de tua própria vida, e ainda assim assumirás para todo o mundo que és muito feliz.
     À MEIA-NOITE ROUBAREI A TUA SANIDADE E A TUA PAZ!

ARTIGO 4.
Sobre a ausência de lisura para o exercício ministerial.
    Preguiçoso sou!
    Coragem me falta para trabalhar.
    Caráter não me é exigido e tampouco me é cobrado experiência técnica comprovada ou formação acadêmica para este tipo de profissão.
    Por isso decidir viver da fé.
    Da fé dos outros, é claro!
    Se acabei de sair de um presídio após cumprir penas por crimes hediondos; se sou um traficante em atividade; se sou um político corrupto ou se faço uso de drogas ilícitas; se visito casas noturnas ou sou o próprio dono de um cabaré, isso não importa! Se os crentes me aceitam, eu estou dentro, quer dizer, em cima do altar.
    Quem és tu para me jugar?
    Com uma bíblia na mão e uma ideia na cabeça, posso ser quem eu quiser e agir como bem entender diante daqueles que me seguem!
   O problema é deles que acreditam em tudo ou buscam facilidades.
    Por incrível que pareça, no ofício onde se diz zelar pela alma e a eternidade dos homens (os bens mais importantes que um crédulo pode presumir), justamente nesse ramo, não se faz exigência alguma para exercê-lo.
   O estado não me persegue se ando irregular, cometo abusos ou uso de minha suposta autoridade para fragilizar a própria constituição, os direitos humanos e a individualidade de qualquer um que ao meu redil venha se juntar.
    Antes, sim, pareço ter proteção estatal, como se eu fosse um poder supremo à parte, um ser intocável, onde crio minhas próprias regras e as imponho com base em ameaças, humilhações e chantagens. Quando não, faço-as por meio da corrupção de caráter e falsas promessas.
    Às vezes, sinto que o estado me apoia apesar de tudo, para que, por meio de minha força, a corrupção do poder constitucional não seja contestada por uma população engessada, manipulada justamente por aqueles que deveriam ser os arautos da justiça e verdade.
    Será que estou errado em pensar assim? Tem sido assim por séculos...
    Na idade média, meus antecessores erguiam ou derrubavam reis, ou reinos por pura exibição de poder.
    A quem queriam, faziam crescer e a quem desejavam, destruíam!
    Bons tempos aqueles!
    Eu e meus amigos de profissão, estamos lutando para que essa fase negra da história retorne, e o controle de todo ser vivente neste planeta, esteja sob nossos pés outra vez.
    É da vontade de Deus que isso aconteça (dizemos).
     À MEIA NOITE CORROMPEREI ALGUNS PODERES!

ARTIGO 5.
Sobre o direito bíblico de extorquir pessoas.
    Cobro 10%, sim, de tudo o que você ganhar, sim!  E se reclamar, cobrarei até 30%.
    Vendo bíblias ao peso de ouro, feijões mágicos ao preço de fábulas, passo adiante bugigangas ungidas feito um larápio, e nem por isso fico sem público.
    Quem está pagando não está reclamando!
    É um direito meu (e deles também)!
    Se Deus se incomodasse com isso, ele já teria exterminado todos que agem assim, não é mesmo?
    Farei o que for preciso para acumular fortuna e viver bem, às custas dos mais pobres e ingênuos deste mundo.
    A Bíblia me permite isso e, como servo obediente, sigo-a e ordeno que vocês façam o mesmo (no caso, contribuam), para que Deus, em sua ira, não vos castigue por desacato.
    Exijo que idosos deixem de comprar comida, remédios e outros itens básicos à própria existência e tragam, voluntariamente a mim, aquilo que “Deus obriga”.
    Ordeno que casais deixem de pagar o aluguel de suas casas e que não cuidem de seus filhos doentes para transferirem a mim as primícias do trabalho de suas mãos.
   Deus cuidará do resto!
   Se você sofrer algum tipo de prejuízo com estas escolhas, reclamem a Deus, não a mim. No mínimo, direi que te faltou fé ou a oferta não foi sincera.
    Repita-a quantas vezes for preciso até que sua benção apareça!
    Covarde tenho sido e, por conta disso, uso versículos bíblicos isolados para intimidar os outros e conseguir o que desejo de forma majestosa. Não sou o Lupin, mas faço sumir os seus bens de forma sorrateira e ainda recebo todos os dias, uma horda de fãs por esses feitos.
     A desonestidade tornou-se minha companheira e, mesmo tendo estudado e conhecido o contexto, ocasião e destino para cada citação bíblica que faço uso, prefiro fingir que só estou sendo categórico, agindo conforme a suprema vontade do criador e que serei penalizado se assim não o fizer.
     Faço caras e bocas na hora de pedir.
    Se não der certo, intimido com o inferno, pragas e outras maldições.
    Querendo ou não, porei a mão em seu bolso e arrancarei tudo o que eu desejar, em nome de Deus!
    Sou oportunista e procuro tirar vantagem em tudo!
    Quanto mais ingênuo e crédulo fores, mais eu usarei de tua fé para tirar de ti até o último centavo, e depois, como coisa descartável, quando pobre, sem saúde, sem dinheiro e sem moral tu estiveres, usarei de “meios sagrados” para que deixeis este lugar e não sejais um fardo à nossa congregação.
     Entre os quase 1.200 capítulos, mais de 31 mil versículos e mais de 700 mil palavras que a Bíblia contém, ordeno que atentes apenas às estas três citações:
1. “Obedecei a vossos pastores”!
2. “Trazei todos os dízimos à casa de Deus (igreja qual fundei ou tenho poder) ”!
3. “...E quem não crer será condenado”!
    Seguindo apenas estas referências e desprezando as demais, terás cumprido seu papel neste templo e ja podes partir em paz.
        À MEIA-NOITE, ROUBAREI O TEU SALÁRIO E A TUA DIGNIDADE!

ARTIGO 6.
Sobre a imbecilidade dos santos e a falta de cognição do rebanho quanto às luxúrias de um pastor.
    Se, em meus atos de frenesi sexual, eu planejar e executar sutilmente o adultério, o estupro, o aliciamento ou abuso de menores e incapazes, se denunciado for, negarei tudo. Estejam sabendo!
   Direi ser calúnia e transformarei a vítima em um falso acusador.
   Se ninguém viu, filmou ou fotografou, então direi que não é pecado e tentarei confortar a contraparte com esta mesma ideia, dinheiro ou cargos na igreja.
   Em não havendo provas materiais contra mim, direi a mim mesmo que Deus a tudo perdoa se a ele eu recorrer.
    Se feri, machuquei ou defraudei alguém, orarei em silêncio e comigo mesmo direi que estou perdoado pelo sangue do cordeiro.
    Após esse breve monólogo, me sentirei livre de culpa, pronto a repetir tudo de novo, até que eu seja descoberto ou perdoado de novo e de novo pelo Deus que a tudo entende.    
    O dano psicológico ou moral que causei ou causar a quem quer que seja em minha imoralidade será por Deus perdoado, pelo simples ato de eu confessar tudo a ele em secreto.
   Sou tão temente ao Pai que apronto as minhas sem deixar rastros, para não escandalizar o seu santo nome, pois ái dos que trazem escândalos.
   Por isso, só apronto às escondidas!
   Deus a mim perdoará, por minha sinceridade em assumir secretamente que sou humano e falho.
   Ele me recompensará com dádivas terrenas e o paraíso vindouro por esta minha humildade em reconhecê-lo como minha fortaleza após um ato libidinoso e premeditado.
    Em sua infinita sabedoria e justiça, Ele punirá com perturbações, doenças mentais e outros males a pessoa que por mim foi prejudicada.
    Se esta mesma guardar consigo rancor, ficar relembrando a dor ou humilhação que causei, ou confessar para qualquer pessoa sobre o ocorrido, o inferno eterno será a sua paga, já que não houve cuidado em preservar a santa e amada igreja de Cristo.
    Digo isto com base bíblica, segundo minha própria interpretação e descaramento.
    Deus é sempre em favor algoz, jamais da vítima.
     Me apoio na Bíblia e na cultura local para dizer isso e tenho respaldo.
     Uma multidão de levianos, desonestos, corruptos e abobalhados se levantará em meu favor e me defenderá, caso eu venha assumir publicamente que estou sendo condenado injustamente por um “simples ato” que cometi e que já foi perdoado por Deus em sua infinita misericórdia, por meio de minhas orações secretas.
    Com um enxame de varejeiras, a vítima de meus atos será linchada, enquanto com afagos e orações, serei presenteado pela insanidade dos tontos.
    A minha consciência descansa, enquanto padece as vítimas de minhas depravações.
   Caso meu delito tenha sido de alguma forma registrado, se exposto, direi que fui vítima de um laço do maligno e pedirei orações à igreja, que de prontidão estará ao do meu lado.
    A noiva do cordeiro, pura, santa, imaculada e “com a mente de Cristo”, usando de toda a sua lógica e equidade, perseguirá aos que me denunciaram e, estes jamais terão paz, não importa quem sejam e onde estejam.
   A igreja tudo abafa, tudo esquece e a tudo perdoa!
   Esta é de fato a comunhão dos santos, quando em comum acordo se juntam para proteger o lobo, mesmo sabendo que este assumidamente f*de com a vida das ovelhas.
   Se o ocorrido vazar e na imprensa eu for parar, farei cara de paisagem, e como um bom meliante, direi que a tudo deus conhece, que a justiça divina será revelada e que tudo isso não passa de uma armação para derrubar meu ministério.
   Como de praxe, mostrarei uma caixa de remédios controlados ou um atestado de doença mental, caso o caldo engrosse.
    Meus companheiros de ministérios tomarão as medidas necessárias para abafar o caso e punir o que tornou isso público.
    Retornarei ao ministério ainda mais ousado, ardente e pronto para fazer tudo de novo e de modo mais sigiloso.
    Repartirei com meus “parças” o melhor da carne branca, ruiva ou mulata.
    Em uma tríade de autoafirmações, reverenciarei a santidade deles para que eles façam o mesmo comigo, e por unanimidade diabólica, na troca de falsos elogios, a congregação seja levada a crer que somos realmente pessoas decentes e que toda acusação era falsa. Sairemos no lucro e os "inimigos" no lixo.
    Bom seria se a vítima ou quem expôs os meus atos sumisse desta igreja, desta cidade ou deste mundo.
    Um suicídio guiado é o que mais desejo.
    Guiado por Deus, pela depressão ou por algum “amigo” que lhes ofereça apoio. Mostrando o quanto errou ao expôr o ungido do senhor e o quanto sua partida deste mundo faria bem a todos.
    Aleluias!
    Deus trabalha de modo misterioso para manter o rei no topo e o escravo nas sarjetas!
   Sou ungido de Deus.
   Só ele me julga. Não presto contas a ninguém e, se alguém se levantar contra mim, o Senhor o matará!
    Amém.
   À MEIA-NOITE ROUBAREI A TUA HONRA E A TUA INOCÊNCIA!
ARTIGO 7.
Do direito de corromper um político ou por ele ser corrompido em nome da fé.
    Ao se aproximar o período eleitoral, estarei disponível a quem me fizer a melhor oferta!
   Venderei a cabeça (voto) de cada crente como se fossem gados num curral.
   Cancela fechada, gado vacinado e ferrado.
    Todos prontos para exploração de recursos.
    Se eu disser ao meu rebanho que um novo messias se levantou entre nós, assim o será e aí de quem desobedecer!
    Quando eu apontar os nove dedos de minhas mãos, como sendo uma escolha divina, saiba que o décimo que sobrou me beneficiará. Estará apontado para mim na “sala dos mistérios”.
     Se porventura eu disser que o Dono do Pó é a pessoa ideal para governar, não ouse questionar, pois do pó viemos e ao pó retornaremos, por isso, do lucro (e do pó) nos beneficiaremos!
    Até na estocagem de vento, Deus usa os seus escolhidos, se assim, eu, como líder do rebanho, decidir.
    Deus apoia o candidato que eu desejar, não o contrário!
    A quem eu determinar, será um escolhido e a quem eu desejar, será um comunista, fascista, esquerdista, patriota ou cidadão de bem.
    Por um preço justo, o Senhor Deus estará ao lado do candidato correto e sua igreja, representada por mim, em apoio, obedecerá.
   Crente não tem gosto, desejo ou vontade pessoal.
   Crente tem pastor que dirige suas vidas, os seus votos e suas aptidões políticas.
   Tudo isso foi depositado na cruz, ou seja, no altar desta igreja para eu decidir o que é melhor para vós e para o nosso país, estado ou município!
   À MEIA-NOITE ROUBAREI OS TEUS DIREITOS POLÍTICOS!

ARTIGO 8.
Do uso das permissões e proibições como objeto de lucro ou servidão.
   Atentai-vos: não toqueis, não façais, não comais, não penseis, não experimenteis...
   Obedeçam, não questionem, não reflitam, não investiguem!
   Se eu disser que assistir televisão, ir ao cinema, pintar as unhas ou cortar o cabelo é pecado, assim o será, e quem me desobedecer será disciplinado (humilhado publicamente por bobagem) e, no futuro, lançado no lago de fogo e enxofre por toda eternidade.
   No dia em que eu puder tirar proveito disso tudo, comprarei uma emissora de TV, farei meus próprios filmes, terei minha própria linha de cosméticos, maquiadores e profissionais do ramo. Todos na unção, dizimando e dando lucro para a casa de Deus.    Daí em diante, nada disto será pecado, e falarei de minhas babaquices do passado como sendo falta de entendimento, quando na ocasião eu atribuía tudo ao desejo de Deus.
    No mínimo, farei de conta que nada disso aconteceu. Que nunca fui um imbecil, levado pelo medo e ignorância e que sempre fui uma pessoa de mente aberta, um revolucionário de Cristo.
   Se eu disser que rede social é coisa do capeta, todos os que a fizerem uso destas plataformas serão desmerecidos publicamente. Os transformarei em pecadores indecentes, motivo de piada de crente e farei indiretas em pleno recinto de culto todos os dias.
   Quando eu for capaz de tirar proveito desta ferramenta, falarei abertamente que está é, senão, uma obra-prima do criador celestial, que possibilita a propagação do evangelho em massa, instantânea e com alcance global.
— Bem-vindo ao culto on-line, irmãos. Aleluias!
   Coma minha cara-de-pau, louvarei os benefícios da tecnologia, farei de conta que nunca a critiquei e ainda farei chacota de quem, no passado, esteve ao meu lado, apoiando tudo o que eu dizia, como se tais caretices fossem deles e não minhas.
   Tudo o que eu puder obter lucro, poder ou prazer, direi ser de Deus, para ele ou em favor dele.
   Aquilo que eu não puder controlar ou tirar proveito, afirmarei ser algo pecaminoso, uma ferramenta do demônio, algo que perverte a igreja, a ordem social, o patriotismo ou conservadorismo.
   Meu lucro, minha vida.
   Sua burrice, minha força!
    À MEIA NOITE ROUBAREI A TUA LIBERDADE!

ARTIGO 9.
Do falso cristianismo e da banalização do sagrado como forma de degeneração coletiva.
   Vós não sois cristãos por saber de fato quem foi o Cristo.
   Tampouco o sois por seguirdes os seus mandamentos.
   Sois cristãos por nascer em um país, comunidade ou família cristã, ainda que não saibais de fato o que isso significa!
   Desobrigo-me do interesse de ensinar o que isso significa, até porque, no dia em que descobrires, perderei minhas mordomias e minhas falsas virtudes serão reveladas.
    Cristo condenou o meu estilo de vida no passado e, se ele estivesse entre nós atualmente, nenhum de nós subsistiríamos.
    Seríamos todos desmascarados e, com grande fúria, nos juntaríamos e o mataríamos outra vez, como assim o fizemos anteriormente.
    Louvamos a Deus pelo Seu silêncio e complacência e agradecemos por vossa (tua) ignorância e falta de leitura bíblica.
    Caso contrário, seríamos achincalhados e expulsos dos vossos lares, igrejas e programas televisivos.
     De fato, todos vós sois cristãos porque, por uma determinada quantia, decidimos que vocês o seriam, mediante um pagamento mensal de 10% de tudo o que vocês ganham e sob o silêncio e reverência às nossas personalidades.
      Qualquer um que se recuse a pagar o que desejamos (seja tributo, seja honra), o trataremos como uma criatura vil.
      Em nosso rito de culto, diante de toda a congregação, faremos a pergunta mais imprestável, inconveniente e desconcertante de todas:
- Você quer aceitar Jesus como Seu Único e Suficiente Salvador?
      Para quem tem mais de dois neurônios, perceberá que há uma “redundante redundância” neste tipo de pergunta, pois nascendo em um país cristão, rezando toda noite preces cristãs e fazendo todo tipo de rito de passagem desde o nascer até o ocaso de nossas vidas, perguntar sobre quem O quer, seria no mínimo irracional.
    Na verdade, fazemos essa cena somente para intimidar. Fingir que somos superiores a quem está sendo ofertado a Cristo.
   Geralmente, não temos nem 1% da honra e dignidade da pessoa a quem esta pergunta está sendo dirigida. Mesmo assim, a fazemos como parte desse mecanismo de controle.
     A partir de então, chamamos de cristão ao que já se consideram de Cristo e o tratamos como se em uma nova religião os tivessem inserido.
    É MUITA LOUCURA!
    Muita insensatez.
    Quanto desperdício de tempo...
    Enquanto ninguém da fé dessa profanação, vida que segue. Fingiremos ser o que não somos e apregoaremos ser os arautos desta verdade.
    Assembleianos, Anabatistas, Presbiterianos, Adventistas, Católicos, Mormons, Espiritualistas, Calvinistas, Wesleyanos, Luteranos e tantos outros... Cristãos, jamais ou raramente!
    Se havia entre nós algum cristão, ele desertou ao perceber que é impossível sê-lo sob a chibata de um salafrário e sob a língua afiada dos crentes hipócritas.
    Se há cristãos no mundo, todos eles estão fora dos templos, devo confessar!
    O que desejamos é o caos e não a ordem, a paz e o respeito mútuo entre as pessoas, como ensinou o Cristo.
    Quanto maior for o nível de caos, maior será o nosso controle sobre vós e toda a sociedade.
     Por isso, não somos cristãos e nem aceitamos quem decide seguir à risca tais princípios.
     Tudo menos isso!
     Toleramos a tudo e a todos, menos um Cristão entre os cristãos.
     Fingimos que sois de Cristo para que finjais que sou um iluminado.
     Pelo menos, nisto somos recíprocos.
        À MEIA-NOITE REVELAREI A TUA FALSIDADE!

ARTIGO 10.
Da permissividade total sobre a vida do fiel.
   Vossos sonhos são meus.
   Vossos recursos serão para me servir.
   Vossa esperança consistirá em receber um galardão vindouro, caso me sirva por toda a vida sem reclamar, desistir ou pensar por conta própria.
   Todas as vossas virtudes serão defeitos, se não forem usadas em favor de minha igreja ou de minha causa.
    Vossos defeitos serão transformados em honrarias, se a vossa subserviência me for completa.
    Em minhas mãos está o poder de tornar imaculado o pecador e transformar em imundície as coisas santas.
    Tem sido assim desde que eu me declarei ungido e um bobo acreditou e propagou essa ideia mais um e mais outro.
    A cronologia de meus antepassados se mescla com a cultura e o tempo nessa embrumação.
    Vossas projeções pessoais agora pertencem a mim ou a este grupo.
    Eu direi quais são vossas necessidades e prioridades.
    Direi quais sonhos são reais e quais são bobagens.
    Argumentarei sobre o querer coletivo, as momentâneas e as desnecessárias, ditas como vaidade.
    Eu sou a encarnação do mal em pessoa.
    Sou tudo aquilo que você teme, venera ou ignora em si.
    A projeção dos seus sucessos e vergonha dos seus próprios fracassos.
    Você os deposita em mim e me paga para que eu os mantenha em segredo ou que as diga em público, quando lhe for conveniente.
    Sou o dominador dos preguiçosos, padroeiro dos desonestos e fomentador da inveja, do ciúme, da ganância e da soberba entre os que temem a evolução da consciência e iluminação do próprio Eu Superior.
   Te oferto os céus e as estrelas, mesmo não tendo nada.
   Ponho à vossa disposição o Pai de Todas as Coisas.
   Te dou o paraíso completo, selado, pronto a te servir, se primeiro me servires de bom grado.
   Do mesmo modo, se não houver um inferno, sou capaz de criar um e inserir dentro dele todos os que a mim não se sujeitam e não me fizeram sentir o Deus que sempre desejei ser.
    Mantenho uma ira irracional contra todos os que saíram deste recinto com o intuito de serem livres ou de alertar aos outros sobre minhas artimanhas.
     Sou como um parasita maldito.
     Sem você, seus medos, sua preguiça, sua ignorância e repulsa pelo respeito mutuo entre as pessoas, eu jamais existiria!
    Aquilo que há de mais nojento em mim, saúda aquilo que há de mais perverso em você!
     Eu possuo a ti, ao mesmo tempo que, por sua insanidade, sou possuído.    
     Preso, estou neste charco de lodo e engano, alimentado pela mútua reciprocidade.
     Roubarei a tua infância, juventude, família e respeito.
     Depois de tudo, quando velho, cansado ou inútil, quando em delírio quiseres romper comigo e retomar o controle de sua vida, saibas que já tenho tudo planejado, pois...
     À MEIA-NOITE ROUBAREI A TUA ALMA...

Texto escrito em 18 de Abril de 2025.

    *Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.